A Casa deve transpirar

Paradoxalmente. Abram suas portas.

Trilha sonora, Todo dia é o fim do mundo, Lula Queiroga.

https://www.youtube.com/watch?v=6RXVUVE8oQY

Vivemos em um tempo de ruptura repentina em nossos modos de vida, o surto do covid 19 nos apresentou uma forma nova de encarar um mundo, que se apresenta desconhecido até para própria ciência, redefinindo os parâmetros de normalidade.

“Onde amamos, é o nosso lar: lar que nossos pés podem deixar, mas não nossos corações.” Olivier Wendell Holmes, Jr. A casa, a nossa casa, o local que deveria ser nosso espaço de aconchego, o local mais seguro do mundo. No entanto, como ter um lar com as melhores características, quais são as características de uma boa e saudável moradia, hoje? Agora em tempos de pandemia veio à tona, que sempre estivemos em uma guerra microscópica e que, estamos desguarnecidos em vários sentidos quando o assunto é a nossa moradia e tudo o que acontece nela.  Profissionais da Arquitetura e Urbanismo do mundo todo, se prontificaram (sob a nova perspectiva) a compartilhar seus conhecimentos em projetos que visam o combate a disseminação do corona-vírus, as construções serão pensadas (dizem que já era) e construídas com novas premissas, mas e as nossas casas que já existem? O que podemos e devemos alterar?  É notável a despreocupação sanitária estrutural na maioria das residências brasileiras, os elementos bioclimáticos - integração entre arquitetura e meio ambiente - são mitigados em projetos, bem como as funcionalidades dos mesmos. As casas assim como os carros deveriam vir com manual de instrução de uso. Os estudos de integração da arquitetura e o meio ambiente se iniciaram na década de 70, criando se então o termo bioclimático, derivado do termo bioclima, que significa “clima específico em determinadas áreas que garante o desenvolvimento de seres humanos”. A casa bioclimática pode ter elementos sustentáveis nos seguintes aspectos; acústica, térmico, iluminação e ventilação, importante para a prevenção de doenças bem como de preservação da natureza. No entanto, vamos pontuar aqui alguns elementos e ações simples que podem trazer qualidade de vida sanitária para as residências, bem como a prevenção de doenças como o novo corona vírus. Quais são essas ações?

• Ventilação natural; aberturas (janelas, portas, ventarolas e zenitais) generosas em extremos para que a ventilação possa se cruzar, ou seja, entrar por um local e sair por outro, cooperando para a troca constante do ar dentro das residências.

• Iluminação natural; a incidência direta do sol matinal em ambientes íntimos, fator extremamente importante para a desinfecção natural.

• Iluminação e ventilação natural; conviver com a umidade e mofo, pode causar sérios problemas no sistema respiratório, geralmente estes organismos se proliferam em paredes que recebem águas das chuvas sem uma evaporação natural.

• Ventilação natural; quando recebemos visitas, mesmo no inverno, é interessante (agora) deixarmos aberturas para que o ar interno seja trocado com frequência.

• Iluminação e ventilação natural; os lavabos por natureza são ambientes onde há maior incidência de microrganismos indesejáveis, portanto, é necessário que seja desinfectado com maior frequência e que estejam bem arejados.

• Micro clima; uma habitação saudável está intrinsecamente ligada a elementos naturais como jardins e agro jardins, cooperando para o equilíbrio ambiental.

Mecanismos de climatização artificiais (ar-condicionado) devem ter sua necessidade revista. Outras ações de higiene pessoal, devem estar atreladas em paralelo com os pontos mencionados acima, como a higienização das mãos e de produtos adquiridos em lojas e supermercados. Não adentrar o interior das residências com os calçados utilizados nas áreas externas também se mostra eficaz, segundo estudos da Universidade do Arizona em 2017 (isso mesmo, 2017). As residências que vão em desencontro com estes fatores e, que provavelmente estão ligados a rigidez da estrutura, podem ser revistas e readequadas, a partir de consultas com os profissionais técnicos da arquitetura e urbanismo que sempre trabalham em consonância com um quadro multidisciplinar.  Esse momento impar que a humanidade está vivenciando só será ultrapassado com ações individuais que visam a coletividade. Incluindo as incansáveis pesquisas em busca de antídotos. Mas é bom nós estarmos preparados para essa mudança brusca de vida, o mundo não é mesmo.

Todos os segmentos profissionais estão sendo revistos e a forma de morar deve ser profundamente alterada, assim como antigos costumes e tradições. Nos resta apenas um saudosismo do passado recente. Por Elton Charles Pereira.