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Rolândia 76 anos, o legado arquitetônico.

  • Elton Charles Pereira
  • 17 de jun. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 18 de jun. de 2020

O Arquiteto Urbanista Rolandiense Elton Charles Pereira concedeu uma entrevista à jornalista Daiane Valentin, tratando de edificações históricas relevantes, que marcaram e ainda marcam a identidade urbana e rural de Rolândia.

A entrevista foi publicada na Revista Rolândia 76 anos, da Rádio Cultura. Algumas informações contidas na reportagem devem ser revistas, logo que houve em alguns casos progressos institucionais, visto que a publicação foi em fevereiro de 2020.

Leia:

A cidade nos conta histórias, vamos ouvi-las?

Marco Zero do município, o Hotel Rolândia começou a ser construído em 29 de junho de 1934 – data esta que marca a fundação da cidade. O aniversário de 76 anos, comemorado no último dia 28 de janeiro, rememora a emancipação política do município, em 1944.

Para além dos registros e patrimônios documentados historicamente, as narrativas sobre o município também se dão por meio da arquitetura e de memórias afetivas.

Para o mestre de obras e arquiteto e urbanista Elton Charles Pereira, de 31 anos, o estilo arquitetônico é uma característica muito peculiar dos lugares e do tempo no espaço. Ele explica que, assim como as cidades da região, Rolândia hoje tem uma arquitetura contemporânea, composta de elementos que evocam as construções dos locais em que os colonizadores viviam antes de chegar ao norte do Paraná. “Isso é muito visível porque a gente tem uma diversidade de grupos étnicos que colonizou a cidade. Puxando uma linha histórica, o que a gente vê são traços de uma arquitetura de outro lugar. São resquícios do local de onde vieram ou de onde seus antepassados vieram”.

Elton cita elementos como o jogo de telhados, notável em algumas construções e característicos das arquiteturas teutônica, germânica, provinciana, além de casas com traços nipônicos na cobertura. Um exemplo é o jogo de telhados do Hotel Rolândia, que remete à arquitetura alemã. O Hotel Pinheiro – antigo Hotel Estrela, projetado pelo carpinteiro alemão Frederico Tolkimit – possui estrutura semelhante, embora tenha sido alterado. Outro elemento raramente reproduzido em todos os aspectos originais, presente em alguns locais é a técnica enxaimel, também da arquitetura germânica.

Outro traço desse primeiro momento são as construções em madeira, que segundo o arquiteto se enquadram no que se denomina como arquitetura vernacular, isto é, cujas construções são feitas com a matéria-prima abundante no território. Em Rolândia, era a peroba rosa. “A construção em si era uma arquitetura vernacular. Feito talvez pelo próprio proprietário de uma terra ou de mão de obra que já veio qualificada no sentido de construção, de outros lugares.”

Um registro sobre essas edificações está presente no livro Arquitetura em madeira (2013), do professor Antonio Carlos Zani, publicado pela Eduel (Editora da Universidade Estadual de Londrina – UEL).

Elton pontua que o período de êxodo rural demandou construções rápidas e a estética acabou sendo influenciada. Algumas casas das décadas de 60 e 70 evocam bastante o movimento modernista brasileiro, com elementos vazados, sem cobertura aparente e com cortinas de vidro.

Patrimônio e consciência de preservação

Em 2018, integrantes dos conselhos municipais de Turismo (Comtur) e de Cultura (CMC) organizaram um mutirão para ajudar na reconstrução do Hotel Rolândia.

O prédio foi construído originalmente pelo carpinteiro russo Eugênio Victor Larionoff, funcionário do escritório da Companhia de Terras, de Londrina. A construção, como dito anteriormente, começou em junho de 1934, mas a inauguração foi em 1º de outubro e os primeiros hóspedes foram recebidos a partir de novembro do mesmo ano.

Em 2011, o prédio havia sido demolido e as madeiras, de peroba rosa, foram vendidas – o município teve que comprar parte dessas mesmas madeiras de volta por determinação da justiça. O material foi armazenado de forma indevida no pátio da prefeitura, o que acabou ocasionando a perda de tábuas.

Um estudo arquitetônico foi feito posteriormente por profissionais do Setor de Planejamento da Prefeitura, que seria utilizado como base para a reconstrução do Hotel Rolândia, que começou em 2014. Entraves políticos e financeiros impediram a continuidade da obra.

Elton e o arquiteto e professor de arquitetura Danilton Aragão, da UNIFIL, desenvolveram um novo layout para o hotel. “Como ele foi mudado de local, perdeu muito patrimônio, muita história nessa mudança, inclusive elementos estruturais.”

O arquiteto também explica que, nesse contexto, o Hotel Rolândia não pode ser tombado como patrimônio arquitetônico pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). De acordo com Antonio Carlos Zani, “ele é um cenário”. Elton esclarece que a edificação reconstruída “evoca no sentido histórico a memória afetiva, mas não é original. Ele vai ficar na cidade como elemento de história. É importante também, a história não se perde, a história se conta. Esse patrimônio histórico é a memória das pessoas.”

Para Elton, a cultura da cidade é enriquecida a partir dessas memórias e uma cidade que possui ou busca desenvolver uma vocação turística deve se preocupar com essa preservação histórica. Ele cita como exemplo países cujas culturas perpassam os séculos como o Egito, Grécia e Pérsia e afirma que muito da história desses locais é conhecida por conta da arquitetura preservada.

Na visão do arquiteto, os cidadãos devem se preocupar no que diz respeito à ocupação de cargos políticos e ao poder público cabe proporcionar uma infraestrutura interessante às vocações de uma cidade.

Situação atual do Hotel Rolândia

De acordo com Catarina Schauff Zanetti, secretária municipal de Planejamento, o Ministério do Turismo liberou um repasse federal no valor de R$ 250 mil para a reforma da réplica do Hotel Rolândia, que vai funcionar como uma casa de memória. O recurso foi destinado via emenda parlamentar do deputado federal Evandro Roman (PSD).

O município dará uma contrapartida no valor de R$ 11.250,00, segundo Catarina, e a readequação e conclusão da obra se darão por meio de um convênio com a Caixa Econômica Federal – ainda não há previsão de assinatura desse convênio e a Secretaria de Planejamento está cuidando dos trâmites relacionados à documentação e projeto.

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Elton Charles Pereira vem de uma família que atua no ramo da construção civil e arquitetura. Apesar de ter nascido em Arapongas e morado em muitas cidades dentro e fora do Paraná, a vivência de mais de 11 anos em Rolândia despertaram no profissional o interesse e engajamento pela preservação histórica do município.

Seu local favorito na cidade é justamente o abrigo que lhe dá proteção, aconchego, aquele que costumamos chamar de lar. Elton gosta de observar as construções e luzes do lado de fora da cidade, quando trafega pelas rodovias que contornam o município.

Seu local favorito no mundo é a zona rural, mais especificamente as edificações e a paisagem no sítio de seus avós, no município paranaense de Cândido de Abreu – onde habitam suas memórias afetivas da infância, como a escolinha em que estudou feita de madeira de araucária (sua árvore preferida).


VALENTIN, Daiane. A cidade nos conta histórias, vamos ouvi-las?. Revista Rolândia 76 anos, Rolândia – PR, ano 2, n. 1, p. 6-7, fev. 2020.

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