O VERÃO, TEMPESTADES E A ARBORIZAÇÃO URBANA
- Elton Charles Pereira
- 23 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
Nessa estação há uma incidência maior na ocorrência de tempestades, com toda a sorte de eventos ligados a esse tipo de manifestação da natureza: incidência de ventos fortes, chuvas com altos índices pluviométricos em um curto espaço de tempo, descargas elétricas – fatores estes que castigam principalmente as áreas urbanas, principalmente em cidades onde não há a preocupação necessária, medidas preventivas inseridas dentro do processo de urbanização, ou nas revisões de uso e ocupação do solo pelos poderes constituídos (Planos Diretores).
No Brasil, temos quase que a grande totalidade dos grandes centros urbanos com problemas relacionados às tempestades de verão. Temos aí, portanto, um aviso “didático” para as cidades de todos os tamanhos, visto que os centros urbanos na grande maioria vivem o crescimento no que tange edificações e evidentemente a ocupação do solo e a impermeabilização do mesmo.
Diante de um cenário de tempestade, um dos maiores “vilões”, dentro de uma perspectiva negligente, são as quedas de árvores ou de parte delas.
Ocasionando, na maioria das vezes, prejuízos materiais e podem gerar vítimas. As quedas ainda tem uma outra consequência, elas acabam causando uma pré-disposição negativa da população em relação à arborização urbana. No entanto, justamente no verão, quando acontecem essas tempestades, é que as árvores das cidades são mais importantes, pois diminuem o calor e reduzem a força das chuvas, ajudando inclusive a diminuir as enchentes. Temos aí uma perspectiva racional.
No Brasil parece haver uma mistura de sentimentos sobre as árvores. A grande maioria das pessoas as valorizam, principalmente durante as épocas quentes do ano. Na contramão, muita gente reclama da queda de folhas, do trabalho que dá para limpar, e alguns comerciantes reclamam que as árvores atrapalham as fachadas de seus negócios. Em Rolândia temos um exemplo em uma das mais importantes vias comerciais, não há uma única árvore no passeio público no perímetro central (Av. Interventor Manoel Ribas). Outros reclamam porque elas caem, ocasionando corte de energia. É muita gente insatisfeita.
Entretanto, recentemente, por meio de pesquisas de botânicos (em especial Marcos Buckeridge, professor titular da USP, que consultamos a literatura), biólogos e urbanistas a conscientização acerca da importância das árvores vem aumentando, e as pessoas estão começando a pensar que todo o trabalho que elas dão pode valer a pena, afinal de contas ruas arborizadas atraem mais pessoas e evidentemente clientes.
Com o aperfeiçoamento da previsão de tempestades, se houver alguma regularidade em termos de locais onde elas ocorrem, talvez seja até possível fazer um planejamento para erradicação das árvores que estão em risco e mudar as espécies de árvores que serão plantadas. Como qualquer ser vivo, as árvores também ficam doentes, como nós não temos ainda uma boa medicina preventiva para as plantas, elas vão adquirindo doenças conforme envelhecem. Em muitos casos, isso ocorre porque insetos e muitos micro-organismos acabam penetrando nos troncos e corroem a árvore por dentro. Se fosse possível tratá-las com medicamentos, obviamente que evitaríamos muitas quedas e poderíamos mantê-las saudáveis por um período maior de tempo.
Em uma rua arborizada, se medirmos a temperatura embaixo das árvores vamos descobrir uma diferença de até 5°C de onde não há a sombra, isso porque uma copa com folhagem bem densa filtra a radiação em até 70%, 80%. Em geral, muitas árvores ajudam a amenizar os efeitos das ilhas de calor¹ que afetam muitas cidades. A arborização urbana interfere direta ou indiretamente em três fatores – na saúde, um efeito direto, as pessoas não percebem, mas quando transitam em uma cidade arborizada pode até prevenir uma série de doenças, principalmente as respiratórias. A arborização urbana impacta diretamente a saúde das pessoas, porque elas acabam transitando em um ambiente mais saudável, que filtra os poluentes do ar, gás carbônico, a umidade e também a radiação, porque melhora a segurança (necessário tomar cuidado com a questão da iluminação que deve ser para pedestres, abaixo das copas das árvores) e também a consciência dos direitos humanos, que parece mais equilibrada. A sociedade é mais harmônica quando existe arborização urbana e outros equipamentos onde há vegetações como bosques, parques lineares, praças com arborização apropriada para a ocupação dos espaços públicos. Segundo a Organização da Nações Unidas (ONU) é recomendado que uma cidade tenha pelo menos 12 metros quadrados de área verde por habitante, no Brasil a campeã é Goiânia com 94 metros por habitante.
Importante então que, diante das ferramentas existentes e disponíveis, tomemos as devidas ações relacionadas à proteção e cuidados preventivos com as árvores de nossa cidade, que ainda deixa a desejar quando o assunto é arborização urbana e, em especial, a viária.
Em Rolândia temos instituído o Plano de Arborização de 2013. Mas cabe uma revisão para que haja na nova gestão um projeto radical de arborização em todos os aspectos, técnicos capacitados temos em nossa secretaria de meio ambiente, que com certeza tem o apoio da sociedade civil organizada.
- Html do Plano de arborização de Rolândia:
Boas festas, que o discernimento individual do cenário atual, seja o comunitário, com todos os cuidados que o momento sanitário pede, e que 2021 possa ser um ano onde possamos ter aspirações que esse fatídico ano nos ensinou. Um fraterno abraço.
Por Elton Charles Pereira, mestre de obras, arquiteto urbanista e ambientalista.
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