Rolândia, Capital verde do ciclismo
- Elton Charles Pereira
- 5 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de ago. de 2020
Referências sempre, antes de qualquer projeto
A roda não pode ser reinventada, em todos os assuntos os quais nós nos deparamos nas mais diversas situações em nossas vidas, sempre haverá alguém que de alguma forma teve a vivência prática ou teórica sobre tal assunto, independentemente do tempo no espaço, cabe a nós apenas adequações e contextualizações.
E na academia de Arquitetura e Urbanismo, temos as referências nas mais variadas facetas dentro da literatura da profissão, uma delas é o urbanismo contemporâneo que traz uma diversidade de assuntos, dentre eles a mobilidade urbana, onde está inserido o ciclístico, uma mobilidade que de certa forma é a mais relacionada e próxima com o mais frágil dos modais de transporte, o pedestre. Ambos têm a característica de estar ao nível do solo e de ter maior interação com os espaços públicos, portanto, carecem de atenção especial. A sua capacidade de locomoção ou a qualidade dessa locomoção é reflexo das políticas públicas de determinada localidade.
Dentre as referências as quais eu não poderia deixar de inserir no meu trabalho acadêmico está o Urbanista Dinamarquês Jan Gehl.
Jan Gehl, a visão de uma das maiores autoridades dentro do Urbanismo quando falamos de pedestre e ciclistas
O pensamento de uso e ocupação do espaço urbano do Urbanista Jan Gehl, sob a perspectiva humanista e contestante das teorias urbanas do modernismo, seu pensamento de espaço sempre é direcionado para a escala humana, portanto, os pedestres e os ciclistas estão sempre em voga em sua bibliografia e pesquisas, em diferentes cidades do planeta, ou seja, sujeita a variados contextos, culturas e variações climáticas.
Jan Gehl (Copenhague, 17 de setembro de 1936) arquiteto e urbanista Dinamarquês e professor aposentado, sócio fundador do escritório Gehl Architects consultoria em qualidade Urbana, com sede também em Copenhague na Dinamarca, executando projetos de intervenções urbanas no mundo todo, prestando também serviços de consultoria. Gehl tem uma visão humanista das cidades e dos espaços públicos, sua carreira foi construída com base e princípios de melhorar a qualidade de vida nas cidades através de uma reorientação do planejamento urbano sempre com um olhar atento sobre a qualidade dos espaços e equipamentos para pedestres e ciclistas. Gehl formou-se e graduou na Academia Real de Belas Artes da Dinamarca, exerceu a arquitetura e urbanismo entre 1960 a 1966, a partir daí recebeu uma bolsa da mesma instituição para “estudo das formas e funções dos espaços públicos” momento a partir do qual passou também a docência na academia e a professor visitante em diversos países, como, Canadá, Nova Zelândia, México, Austrália, Alemanha, Polônia e Noruega.
As influências de Jan Gehl; em uma entrevista recente publicada no website da revista City Manager com o título ‘Jan Gehl ciudades para la gente’, ele cita que boa parte de seu pensamento e ideário no que toca as cidades vem da, segundo ele ‘avó’ do urbanismo e do planejamento humanista das cidades contemporâneas Jane Jacobs, ela que tem um dos livros mais incisivos e provocantes das problemáticas ocasionadas pelo pensamento moderno das cidades, Morte e vida de grandes cidades da editora Martin Fontes – WMF, Jacobs sobre os elementos de uma cidade e a função deles no complexo organismo que é a cidade, identifica problemas e cria teses para solucioná-los além de pensar a cidade a partir da escala humana, e Gehl bebeu desta fonte que é inquestionável quando trata-se da problemática vida nos grandes centros urbanos na perspectiva do urbanismo que as teorias do modernismo desencadeou nas cidades.
Pra quem leu os dois artigos anteriores da série Rolândia, capital verde do ciclismo, pode notar que algumas teorias de Gehl está inserida no contexto dos trabalhos.
A perspectiva da bicicleta e a relação com a escala humana
A visão de Gehl baseia –se, que este modal de transporte é o mais adequado com questões que envolve discussões e implementações de ideias que visam o espaço urbano na perspectiva da escala humana, a vida da cidade baseia-se segundo ele no térreo, no nível da rua, é onde nos movimentamos e onde ocorre as maiores interações entre os habitantes do espaço urbano.
Um pequeno documentário
Uma cidade sem carros. No Pará o município de Afuá, com 32.668 habitantes (IBGE 2008), que evidentemente não pode servir de parâmetros para nosso contexto, Rolândia no caso, afinal o Pará é um estado amazônico com particularidades culturais, geográficas, econômicas e sociais. O contexto qualitativo de espaço urbano e de mobilidade urbana nesta cidadezinha vão de encontro com o pensamento urbano de Gehl.
Riquíssimo, não é? As conclusões em relação a produção áudio visual, sobre AFuá, cidade das bicicletas, documentário da Renata Falzoni, após a leitura deste pequeno artigo, podem ser tiradas por vocês mesmos. O que acharam?
Lembrando que, não podemos colocar Afuá como parâmetro para nossa realidade, mas alguns conceitos e características sim. Importante lembrar isso, afinal a internet é ao mesmo tempo que é um vasto campo de pesquisa é também um espelho do ápice da mediocridade.
Por exemplo, é sempre bom deixar claro que, a opinião em relação a mobilidade urbana, não é uma luta fanática contra os automóveis, de forma alguma.
Por Elton Charles Pereira, mestre de obras, arquiteto urbanista e ambientalista.
1 - GEHL, Jan. Cidades para as pessoas. Tradução de Anita Di Marco. São Paulo: Editora Perspectiva AS, 2013. 262 p. Tradução de: Cities for people.
2 - JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Tradução de Carlos S Mendes Rosa. São Paulo: LMFE, 2003. 499 p. Tradução de: The death and life of great American cities.
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