Onde estacionar o calhambeque em Rolândia?
- Elton Charles Pereira
- 23 de jun. de 2020
- 4 min de leitura

O novo vilão da mobilidade urbana, os estacionamentos em vias públicas (ou seria a falta deles?)
Rolândia tem uma população estimada em, 66.580 habitantes (IBGE 2019) e 47.956 veículos registrados segundo números do Detran/PR.
Dentro dos parâmetros urbanísticos, nossa cidade é considerada um aglomerado urbano de pequeno porte, com menos de 100.000 habitantes. No entanto, o assunto pautado aqui não deveria, diante dos números e dimensões da nossa cidadezinha, estar em discussão tão cedo. Porém, por outra perspectiva - a de se anteceder aos infortúnios urbanos futuros -devemos pré-estabelecer um diálogo.
Rolândia tem alguns problemas pontuais de mobilidade urbana - o que, assombrosamente essa é a percepção de parte dos munícipes - e o principal fator que colabora com isso está relacionado às dificuldades em encontrar vagas para estacionar nas vias públicas das áreas centrais.
A cidade não conta com nenhum dispositivo que realize uma organização do trânsito, a não ser as sinalizações verticais e horizontais, aliás em Rolândia o trânsito não é municipalizado, portanto, não há uma jurisdição direta dos poderes públicos municipais.
A ocupação das vagas e o diagnóstico
O assunto é objeto de discussões hora ou outra, evidenciado hoje pelo contexto sanitário, visto que, há bloqueios em duas importantes avenidas. A carência de estacionamentos em vias públicas, ou a inexistência de rotatividade, se dá por alguns fatores que muitas vezes não estão atrelados a falta de espaços destinados para tal. Alguns exemplos são: a busca por uma comodidade exacerbada por parte de algumas pessoas, salvo portadores de necessidades especiais que são ainda, muitas vezes desrespeitados; a utilização de vagas por um único veículo durante grande parte do dia, um estudo indica que os carros ficam parados por aproximadamente 95% de suas vidas úteis (Palmer; Ferris, 2010, p 22). Será que não damos muita importância para eles? - A utilização do automóvel como único modal de transporte individual; ou mesmo análises singulares de alguns comerciantes de que vagas de estacionamentos de fronte ao respectivo comércio são de forma isolada, um fator para o fomentar as vendas, quando na verdade deve haver uma conjuntura convidativa para os consumidores.
Em 2016, houve o encerramento do Zona Verde, mantido pelo projeto AVOCAR (Associação dos Voluntários e Voluntárias da Caridade de Rolândia), projeto que visava a cobrança e a organização das vagas dispostas em determinadas vias públicas, cooperava com a rotatividade e a democratização do uso destes espaços. Segundo a diretoria do projeto, a falta de apoio do poder público e sem a perspectiva de municipalização do transito na então gestão, cooperaram para que as atividades fossem encerradas. Hoje a ocupação destes espaços exclusivos para estacionamentos é utilizada sem moderação.
Que direções podem ser tomadas, considerando os diversos fatores que colaboram para o agravamento do problema de vagas, dentro do debate sobre estacionamentos em vias públicas?
Antes de quaisquer medidas de intervenções físicas, propostas absurdas de desapropriação de praças e bosques para implantar estacionamentos inóspitos, é necessário que haja revisões nos conceitos, os quais empregamos para afirmar que a criação de novos espaços destinados aos veículos, seja a única solução para a falta de vagas de estacionamentos nas vias dos centros urbanos.
Podemos apontar algumas sugestões, que viriam a cooperar para que a ocupação deste equipamento, ou espaço público, fosse de certa forma aproveitado de forma genuína e sem conflitos de interesses.
Fiscalização de excessos de guias rebaixadas, visto que elas cerceiam os estacionamentos perimetrais as guias, dentro da resolução estabelecida pelo CONTRAN, onde há o descumprimento, há a prerrogativa de o estacionamento no recuo ser público e não exclusivo para clientes, conforme a Lei nº 71, de 1999.
Políticas públicas de acessibilidade e de direito a cidade (Lefevbre2001), revisão de dimensões de passeios públicos nas áreas centrais.
Criar Lei e, analisar junto ao executivo possibilidades para uma fiscalização, tornando obrigatório a instalação de equipamentos para portadores de necessidades especiais em toda a área central.
Políticas públicas de segurança, infraestrutura, educação e de saúde, que incentive a caminhabilidade nos passeios públicos, proporcionando assim a ocupação de vagas disponíveis em um raio maior na área central.
Executar políticas públicas e, oferecer estrutura convidativa para a utilização de outros modais de transportes individuais, como o cicloviário.
Readequar toda a conjuntura inerente ao transporte público coletivo, proporcionando qualidade de vida ao usuário.
Realizar um estudo para requalificação da estrutura viária da área central urbana do município.
Zona Verde, reinserir um programa de rotatividade nas vagas de estacionamento públicas.
Cabe também ao poder público incentivar a ocupação de lotes ociosos para estacionamentos privados.
Conclui-se que para um cenário promissor a curto prazo, temos que municipalizar o trânsito Rolandiense. Em 2019 foi aberto o processo de municipalização, porém até o momento não há perspectiva de conclusão deste importante instituto urbano em nossa cidade.
Uma vez preenchidos os requisitos para integração do município ao Sistema Nacional de Trânsito, ele assume a responsabilidade pelo planejamento, o projeto, a operação e a fiscalização, não apenas no perímetro urbano, mas também nas estradas municipais.
É preciso andar com as próprias pernas, desamarrar-se e aguçar a criatividade.
- Por Elton Charles Pereira, Rolândia 23 de Junho de 2020.
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