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Rolândia e seu Patrimônio Histórico-cultural

  • Elton Charles Pereira
  • 17 de ago. de 2020
  • 6 min de leitura

Dia 17 de agosto, dia Nacional do Patrimônio Histórico.


As políticas de Estado para a cultura na sociedade ocidental, tem como um de seus pilares a preservação do patrimônio histórico nacional. Na Europa, no século XIX foram criadas instituições predominantemente públicas, foram elaboradas leis, e também a partir das academias, foram realizados diversos inventários de conservação e de restauração de monumentos, de modo a estruturar práticas preservacionistas, modelo esse que perdura até os dias de hoje.


No Brasil foi na primeira metade do século XX que foi criado o primeiro instituto de preservação de patrimônio, o atual IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) – fundado em 1937 veio como firmamento institucional do antigo órgão vinculado ao MHN (Museu Histórico Nacional).


O IPHAN utiliza de dois mecanismos para tombamento de bens, são eles:

- os bens materiais móveis e imóveis de interesse cultural ou ambiental e que tenham um interesse de preservação da memória coletiva;

- e os bens imateriais que abrangem as expressões culturais e tradições que grupos de indivíduos preservam em respeito à sua ancestralidade, de modo que seja alcançada pelas gerações futuras, assim determinada região ou povo mantém sua identidade respeitando a convivência com novos povos.

Na contemporaneidade vivemos a todo o momento com processos imigratórios em grande escala devido a uma diversidade de infelizes fatores. Porém, a proteção à vida não deve, de forma alguma, divergir com as normativas de preservação cultural de um povo – preservar a vida é o mais importante papel de todos nós enquanto civilização.


No Brasil, na constituição federal de 1988, foi adotada no artigo 216 uma concepção bastante ampla de patrimônio cultural.


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Artigo 216


Além do IPHAN, há também os órgãos de competências estaduais e municipais que podem e devem exercer o papel de preservar o patrimônio local com normativas próprias.


A que quantas andam tudo isso em Rolândia?


Como anda a proteção do patrimônio histórico Rolandiense? Temos aqui em nosso município, na história recente, a memória de grandes festas tradicionais, que estão se indo com o tempo, como uma vela acesa que vai chegando ao fim, em total desconformidade com todas as diretrizes de preservação histórica e de identidades.


Um dos ícones da paisagem urbana de Rolândia a estátua Roland, que hoje está isolada do público quando o assunto é acessibilidade e inserção no desenho urbano interativo, devemos mais respeito a Roland. A estátua do guerreiro alemão Roland, simbolo de heroísmo na cidade alemã de Bremen ganhou na década de 50 uma réplica que foi presenteada pelos citadinos bremenses a nossa cidade. Esse assunto, merece um artigo à parte, uma análise do relacionamento entre a escultura com o entorno e consequentemente com a cidade.


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A estátua Roland e seu entorno. Foto: do autor 2020

A Oktoberfest é um exemplo lastimável, donde uma série de fatores externos e de interesse apenas e puramente privado, retiraram essa festa do cenário nacional e local, nesse ano de 2020 teríamos a 31º edição. O evento é um exemplo de um patrimônio cultural imaterial, que compreende a gastronomia, danças, artesanatos, etc., e que tem grande valor na identidade coletiva de uma região, como também de fomento econômico. Houve uma tentativa do poder público junto à sociedade civil organizada de resgatar, no ano passado a festa étnica. Próximo.


Tivemos aqui vários momentos e ocasiões que de fato fizeram parte da história e da memória local e regional coletiva, e de fato deveriam ter sua preservação destinada a espaços de memórias em museus municipais e regionais. Por exemplo, a história do visionário Hebert Bartz, precursor do método inovador do plantio direto na agricultura brasileira, que foi criado e primeiro implantado em terras rolandienses; Em dada ocasião ele próprio se propôs a doar para a Secretaria de Cultura os maquinários e ferramentas que foram utilizados naquele momento de tamanha inovação na agricultura no cenário nacional – o que, por sinal, não foi de interesse dos gestores naquele momento. Próximo.


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Hebertz Bartz (FEBRAPDP 2018)


O Hotel Rolândia, este tem um artigo aqui mesmo no blog, click aqui, tratando somente dele, episódio que ainda anda permeando o meio político rolandiense, destratado de todas as formas possíveis pelos responsáveis que passaram e que ainda estão nas autarquias que respondem pela proteção ao nosso patrimônio. Diante das inúmeras características necessárias para tombamento de um exemplar arquitetônico pelo IPHAN, o então Hotel seria uma das primeiras edificações do norte do Paraná a atender uma das principais, que é ter mais de 80 anos, completados em 2014. Hoje, Rolândia poderia ter uma edificação tombada pelo IPHAN. Lógico que se entende que ela originalmente era uma propriedade privada, através de uma ação popular em 2011 foi adquirida partes das madeiras pelo município de Rolândia, deixando de possuir assim possibilidade de tombamento arquitetônico. Próximo.


O município conta ainda com edificações públicas que estão às minguas, se deteriorando, sendo vandalizadas, ou seja, abandonadas à própria sorte por outras e pela atual gestão do executivo e ignoradas pelo legislativo municipal. O primeiro núcleo urbano de Rolândia conta hoje com pouquíssimas edificações preservadas e não há políticas públicas de incentivo que criem prospectivas de agregar valores culturais a estas edificações. Por direito e pelo cenário especulativo, os proprietários as vendem para o setor imobiliário que naturalmente, colocam-nas abaixo. Próximo.


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Um dos barracões da antiga estação ferroviária (do autor 2020)


Os artistas rolandienses, temos nomes ilustres que hoje são pouco conhecidos pela grande maioria da população (?), como Elifas Andreato um dos maiores designers do Brasil, que confeccionou a arte de capas de discos de ícones da música brasileira.


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Elifas Andreato. Foto: arquivo pessoal


Mathilde Hoster, conhecida como Nanuk, artista plástica radicada em Rolândia que veio ainda criança para o norte-paranaense e iniciou aqui as gravuras de quadros do cotidiano desbravador dos pioneiros.


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Nanuk. Foto: Secretaria de cultura de Rolândia


Edson Massuci, outra personalidade do hall artístico rolandiense, que a partir da iniciativa do educador ambiental e artista Daniel Steidle e família, hoje tem um museu dedicado a suas esculturas em tela de antenas parabólicas e jornais, ele tem como principal conceito aquela Rolândia Rainha do Café doutros tempos, que são materializadas em esculturas, que replicam os afazeres cotidianos daquela gente. Massuci está em plena atividade hoje, inclusive com canal no you tube, inscreva-se. Próximo.



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Na imagem, momento da inauguração do museu do café Massuci na fazenda Bimini, da esquerda para a direita, Ruth Steidle, Daniel Steidle, Massuci e Roberto Negrão, vice prefeito de Rolândia. Foto: arquivo Bimini


Em São Martinho, distrito de Rolândia tem o atelier do artista plástico Euzébio Denner, que tem reconhecimento como pintor e professor de artes plásticas. Próximo


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Euzébio Denner em seu atelier. Foto: arquivo pessoal do artista.


Temos tantos outros artistas, escritores e personalidades, que deveriam ter seus nomes e obras compartilhadas e agregadas à memória da cidade. De fato, há uma parcela da sociedade rolandiense que tem o privilégio do acesso pleno à cultura (mesmo que a produção e a preservação sejam rarefeitas).

No entanto, para que determinada sociedade venha a construir ou preservar uma identidade ou consciência de preservação, é necessário que as políticas públicas visem alcançar de forma horizontal toda a população.

Aqui, por exemplo, poderíamos começar com a abertura do único museu municipal aos finais de semana – hoje há um claro cerceamento ao acesso da grande maioria das pessoas por motivos óbvios. É necessário promover políticas públicas de acessibilidade à cultura de modo que haja, também, incentivo à produção cultural.


Temos sim alguns movimentos culturais e artísticos na nossa cidade, eventos musicais ou que reúnem artistas locais, mas que o fomento não é da iniciativa pública que é onde está nossa contribuição financeira, onde parte do bolo tributário é direcionado para que todos possam usufruir de forma homogênea da materialização dos recursos.


Secretários adjuntos de cultura devem ou deveriam ter um perfil que ultrapassasse a mera promoção de eventos, para o plano de produção cultural e, da tecnicidade de preservação, isso é o que precisamos, isso é o que uma sociedade que de forma rasa vê o setor cultural e de proteção ao patrimônio histórico como desnecessário. Não há espaço para um maestro médio quando se trata de cultura e de patrimônio histórico coletivo (quem tem receio da palavra coletivo pode trocar por ‘de uma civilização’).



Do futuro...

Temos pontos chaves que podem em um futuro próximo, serem inseridos ricamente na cultura e identidade local, Rolândia capital verde do ciclismo, por exemplo.



...depende o presente.


Por Elton Charles Pereira, mestre de obras, arquiteto urbanista e ambientalista.

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